10.12.16
uma colher de mel
Nuno Casimiro
entre desgostos e lamúrias
perco-me.
sou um eu perdido num choro
existencial.
vivo à toa nesta embriaguez
que me corrói.
viciado no teu cheiro, que ecoa e
persiste nos meus dias.
és como uma colher de mel,
um pequeno suspiro de alívio
face à tubulência intercalada.
canso-me de ser eu,
em toda a minha essência.
bebedor nocturno, cujo habitat
são os becos escuros
e sem saída da minha exaustiva alma.
perco-me na luz que me anestesia.
quero desligar o sol
como se fosse um candeeiro banal.
a noite é das putas, dos poetas,
e dos que sofrem de amores.
a escuridão embriaga-me
e eu deixo-me levar,
como uma maré forte
que me empurra para
destinos desconhecidos.
construí-me deste modo,
à volta de sentimentos abalados
por derrocadas famintas.
abanões constantes mantiveram-me
neste limbo, entre o desgosto mundano
e uma colher de mel - o alívio intercalado.
a minha mãe dava-me mel
quando estava doente.
aconchegava-me. um momento de suspiro.
significava uma folga da escolinha.
é a imagem da relativa indiferença
com que encaro o Tudo
e o Nada.