14.03.17
A paisagem que me foge
Nuno Casimiro
Já há algum tempo que me sinto assim:
remoto, inerte, desconectado.
Extinto por dentro.
Olvidei quem sou,
na agonia de me reencontrar.
Nas minhas fantasias
deparo-me envolvido na paisagem que me foge,
com quilómetros e quilómetros de verdes espaços,
que me oferecem a serenidade inalcançável.
Perco-me nessa imensidão de promessas distraídas,
que foram enterradas bem fundo
durante as luas que desapareceram timidamente
após as madrugadas despidas de vida.
Em cada novo dia acordo a bocejar,
despido de crenças e estímulos.
Logo quero voltar a dormir,
viver nas quimeras que a minha mente prepara
para me felicitar por mais um dia perdido.
Nos suspiros solto a melancolia que carrego no peito,
como uma âncora prende uma qualquer embarcação
num qualquer cais da nostalgia.
Deambulo pelos trilhos da indiferença,
sem qualquer rumo,
procurando um mísero minuto de paz.
Atrás de mim deixo um rasto de migalhas descrentes,
talvez pela esperança inconsciente que ainda sustento,
em que tu me voltes a encontrar.