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À Beira da Lua

À Beira da Lua

23.10.17

inquietudes


Nuno Casimiro

Acabo os meus dias

querendo ser outra pessoa

ignorando que nessas medidas

desperdiço um qualquer eu, à toa.

 

No horizonte ecoa um grito

dando o mote para a retoma.

As cãibras bem me alertam

mas um desprezo se assoma.

 

Fico aquém das vontades

e resguardo-me no meu canto.

Aí sonho bem alto

mas já não me espanto.

 

No além deposito a réstia de esperança.

Deambulo por caminhos já percorridos

exibindo a minha pouca confiança,

cansado das caras com os mesmo sorrisos.

 

As repetições acumulam-se

e nelas vou-me perdendo.

Desilusões multiplicam-se

dando azo ao meu abatimento.

 

Nada fácil sentir-me pequeno

e querer tudo conquistar.

Lá longe no tempo ameno

o sufoco acaba e consigo respirar.

 

Esse longe é a minha utopia,

um sítio com um qualquer encanto,

que me solta da monotonia

e me faz voar alto. E canto!

16.10.17

da janela para o mundo


Nuno Casimiro

da minha janela

vejo todo um mundo

com a ilusão bela de

que lhe pertenço.

da minha janela

admiro os transeuntes ocupados

com as suas vidas

vivendo o hoje e preparando

o amanhã.

no reflexo que a janela me proporciona

vejo um miúdo

que carrega uma mágoa

exaustiva,

desperdiçando o presente

hipotecando o futuro.

nesse mesmo reflexo

uma tristeza sobressai

no seu semblante.

escodendo-se numa complexidade

de emoções e pensamentos.

procura-se no reflexo diante de si,

nas pessoas que passam,

no cigarro que se consome.

sente-se preso no passado

e na melancolia consequente.

deposita uma fé exacerbada 

em sensações antigas;

vive desejando revivê-las,

mas desta vez com todo o fulgor.

o miúdo sou eu;

ou assim creio - já não sei.

 

da minha janela consigo ver o mundo.

ele altera-se e mantém-se intacto a cada instante.

julgo-o inalcansável.

recosto-me na cadeira

e fumo mais um cigarro - é a satisfação momentânea.