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À Beira da Lua

À Beira da Lua

01.03.18

calada da noite


Nuno Casimiro

São muitas as noites que passo de olho aberto.

Insisto em escrutinar o que já passou;

persisto em manter-me inconsequentemente desperto;

martirizo-me pelo que não perdurou.

 

Aí reparo na notória ondulação

que o peso morto do meu corpo

provocou no solitário colchão.

 

Deixo a persiana entreaberta

de maneira a que o sol entre sorrateiramente.

Mas mal vejo a luz que te desperta

um cansaço invade-me completamente.

 

Assim que acordo quero voltar a adormecer,

continuar a sonhar sonhos dos quais nunca me lembrarei.

O dia é angustiante logo no renascer

o barulho relembra-me o que sou e o que nunca serei.

01.03.18

madrugada


Nuno Casimiro

a noite já vai longa

e continuo à procura de respostas.

são cinco da manhã

e continuo sem sono.

apenas persiste o cansaço.

assomo-me à janela

para ver o que a madrugada tem para oferecer.

pássaros já cantam

e ventos frios sopram na minha face.

uma dormência na perna esquerda

bem me alerta que tenho que mudar de posição.

mas lembro-me do pouco que sinto

em relação à vida.

enrolo um cigarro tardio

e fumo-o num tom taciturno.

consigo acalmar os pensamentos por instantes,

qual rodopio de autocomiseração.

pois sim, sinto pena de mim próprio.

o que mais sentir?

sou recluso do meu modo de ser;

da parca comunicação que pauta a minha existência.

 

sonho ser um garoto mais uma vez;

brincar no meio das ruas da minha vila;

de partir janelas ao ritmo duns pontapés deficientes na bola.

quero voltar a saborear o nojo que era caldo verde na altura.

nunca um pedaço de pão com manteiga

soube tão bem como outrora,

nas tardes lá na vila, nas pausas das futeboladas sem regras.

saudades desse tempo que não volta,

um tempo simples,

sem estar refém do tempo ou dos números ou das responsabilidades ou das escolhas.

que alívio seria voltar…