01.03.18
calada da noite
Nuno Casimiro
São muitas as noites que passo de olho aberto.
Insisto em escrutinar o que já passou;
persisto em manter-me inconsequentemente desperto;
martirizo-me pelo que não perdurou.
Aí reparo na notória ondulação
que o peso morto do meu corpo
provocou no solitário colchão.
Deixo a persiana entreaberta
de maneira a que o sol entre sorrateiramente.
Mas mal vejo a luz que te desperta
um cansaço invade-me completamente.
Assim que acordo quero voltar a adormecer,
continuar a sonhar sonhos dos quais nunca me lembrarei.
O dia é angustiante logo no renascer
o barulho relembra-me o que sou e o que nunca serei.