Enrolo cigarros freneticamente
Enquanto penso em poesia.
A poesia pensa-me
Enquanto aclamo velhas sensações.
Um frio simpático entra pela janela meio aberta,
Pela persiana a meio gás.
Distraio-me com o filtro que se colou nos lábios.
Hesito face à premissa de um poema novo enquanto recuso tentar dormir.
O cigarro não satisfaz. Fi-lo defeituoso.
Os pés descalços acusam a falta de calor.
Nem gosto do verão mas sinto-lhe a falta
à medida que as palavras custam a pensar.
Tenho que me inovar – e de outro cigarro talvez.
Mas não sei como rimar.
Guardo aquele instante
Enquanto desisto de mim.
Enrolo cigarros avidamente
Ao ritmo de pensamentos manipulados.
Articulo um discurso imaginário.
Houve dias em que ninguém ouviu a minha voz. Nem mesmo eu.
Fico exausto de pensar que estou exausto.
Só existem 24 letras… contei bem?
Com quais se escreve o teu nome?
Costumava tê-lo na ponta da língua.
Não me posso esquecer de fechar a persiana.
Até já tenho os pés gelados.
Ou então calço umas meias e continuo a fumar
E a pensar em novas formas de te poetizar
E a iludir-me com o cocorocó que vem dali tão perto.
Pois sim, harmonia.
Os lençóis vão cheirar a cigarros frenéticos logo ao acordar.
Se deixar a janela aberta alguém pode querer ver quem escreve poesia até tão tarde.
O véu fica esquecido à porta da percepção.
Escondo o cinzeiro, fujo da ética.
Enfio a cabeça na almofada e julgo conhecer o amor.