27.11.20
nem sei ao que venho
Nuno Casimiro
nem sei ao que venho.
limito-me e encolho-me quando faz frio
surgem ecos medonhos vozes grandes
que perfuram paredes duplas
e corações triturados voltam a unir-se
só para sentir mais um pouco
de ruína.
nem sei ao que venho quando saio à rua.
acordei num salto com o arrojo dos céus
nuvens rasgaram-se e os cães enlouqueceram
severidade de sentinela
levantamento forçado de lucidez
ouvido atento a falsos prazeres -
todas as coisas e esse pressentimento feroz
reúnem-se num sopro vagaroso, diurno, díspar
disparate julgar quem anda mais depressa
apressar sentimentos para encaixar ilusões
iludir os sentidos após o meio dia gasto
meditar sobre um sapato roto e analisar
uma despedida.
tudo
sentido
ambíguo
rompendo
os horizontes
da minha memória.