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À Beira da Lua

À Beira da Lua

27.11.20

nem sei ao que venho


Nuno Casimiro

nem sei ao que venho.

limito-me e encolho-me quando faz frio

surgem ecos medonhos vozes grandes

que perfuram paredes duplas

e corações triturados voltam a unir-se

só para sentir mais um pouco

de ruína.



nem sei ao que venho quando saio à rua.

acordei num salto com o arrojo dos céus

nuvens rasgaram-se e os cães enlouqueceram

              severidade de sentinela

                                   levantamento forçado de lucidez

                                                             ouvido atento a falsos prazeres - 

todas as coisas e esse pressentimento feroz

reúnem-se num sopro vagaroso, diurno, díspar

disparate julgar quem anda mais depressa

apressar sentimentos para encaixar ilusões

iludir os sentidos após o meio dia gasto

meditar sobre um sapato roto e analisar

                                                         uma despedida.


tudo 

sentido 

ambíguo

rompendo

os horizontes

da minha memória.

25.11.20

encanto ensolarado


Nuno Casimiro

Dancei ao esgrimir contra uma corrente
Natural, força digna e tranversal
Que sacode os nervosismos das tendências
Distópicas de uma noite a chorar.
Venho até mim quando fujo daquilo que sinto, naturalmente a cerveja ajuda
A contrariar o desapego de um rosto negro (ensombreado pelo quarto escuro sem lua)
Encostado vinte centímetros além de mim.

Torna-se tudo um sonho distante quando mal penso no passo que dei
E nas respostas que vou dar sobre uma noite de devaneios à chuva de ninguém.
Mas sempre se acorda para mais um encanto ensolarado com vista para as palavras sem sentido.

Vem um instante
Compilam-se as dúvidas num disco rígido
Penso num passeio que nunca concretizo
Vegetação, verde, humidade
Ternura.
Hoje chove e sinto as meias molhadas.
Sinto-me quente nos teus braços
No teu beijo.
Lençóis fervilham de algo que nunca se entendeu mas perseguimos uma noite infinita.

 

24.11.20

surreal


Nuno Casimiro

Um dia acordei atordoado e

confuso.

Quando,                      de súbito

tudo parecia

                                         surreal.

 

Todos os pensamentos rotineiros

e até a minha consciência soavam a

novidade.

Senti-me

                                 abandonado.

 

24.11.20

vou e volto


Nuno Casimiro

I

Há toda uma calma decorada
Nos passos que se dão em volta
- Vou e volto com a mente dispersa.

O rio troca o sentido
E destoam-se os pretextos de uma cerveja
- Vou e volto com a mente dispersa.

Mais adiante agigantam-se as vozes;
Viro suposição quando tento compreender
O que me foge
- Vou e volto fugindo de mim.

À nossa volta misturam-se os sonhos leves;
O chão enterra os passos que nunca se dão
- Vou e volto fugindo de mim.

II

Fito o teu olhar doce
E pernoito no teu peito estreito.

(Vem um sonho com sabor a pesadelo)
Sinto um beijo vindo do horizonte
Da minha memória.

Fantasio com o teu lábio inferior.

Mordo a fugacidade de um amor ingénuo
E vicio-me na literatura da tua voz.

Apetece-me naufragar em cerveja
Com vista para o teu piscar de olho.

- Vou e permaneço no mistério da ida.

24.11.20

de longe


Nuno Casimiro

A tarde chega-me depressa
Sem a agitação das manhãs.
Escondo-me na erva, entre árvores
Cujos nomes nem sei.
Respiro a ignorância dos fugitivos
Sem lei nem compromisso.
Escrevo linhas tortas
Enquanto curvo as costas
Face à iminente cheia dos rios
Que vêm de longe.

A noite vem lenta
Ainda com o sol das 6.
O cansaço é pleno e dói o peito,
Nem sonho por não entender o enredo
Que faz da minha essência
Uma substância ébria.
Acompanho o caudal dos rios
Que me chegam de longe
- Tudo é calmo sem qualquer hesitação.

Mas nem o despertar me acorda!
A manhã sempre tarda
Enrolada no canto surdo dos pássaros no meu quintal.
O lamento vem de tão longe
Que chorar já nem sei.