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À Beira da Lua

À Beira da Lua

24.11.20

hora vaga


Nuno Casimiro

Na indiferença
Constante do apelo,
Levo esta leve brisa
Que me enche o peito
Até que o sol se põe
Sob a desatenção
Do meu olhar.
Não penso em coisa alguma –
Sou o vazio de uma alma
Quebrada.

Na hora vaga
Um compromisso remoto –
Casualidade de uma cerveja
Quente.
Abre-se o mundo que se conhece
Quase de
Cor.
Sinto a humidade de promessas
Que se pensaram
Na ponta do nariz.
Uma árvore dispersa-se,
Dividida em mil bocados
(em mil fragmentos mortos).

Nessa hora vaga
De sensações quebradas
Enfio as mãos nos bolsos
E estão rasgados.
Os mil bocados de mim
Foram esquecidos.

24.11.20

frio de outono


Nuno Casimiro

vêm as vibrações enroladas
pelos dizeres jamais ditos,
reflexos de um desconforto
constante ao desapego,
comum a quem devaneia
um simples rumo para casa
no outro lado do frio de outono.

vem um pôr do sol confuso,
adiantado conforme as dissonâncias
de verborreias alheias,
mas mantém-se uma forma de estar -
perna que cruza a ignorância das manhãs
com a eloquência de trazer
um casaco debaixo
do braço
pois
faz frio às cinco e meia
e debatem-se cervejas
sobre o respeito
mútuo.

na verdade
só queria um beijo
para adormecer
melhor.

24.11.20

seis e meia


Nuno Casimiro

há um desfasamento qualquer
(como a ponta de uma faca afiada pelo meio dia antes de trinchar um pedaço de carne)
que te coloca entre o ridículo e o
(des)conforto
de uma voz (des)conhecida.
toca um sino -
são seis e meia
longe de mim.
reparo na onça de crossoroads
que vai encolhendo
conforme os trocos no bolso de
trás. ainda servem para uns copos
debaixo de um luar atento.
destroço os pilares que sustentam
uma beira mar
a quilómetros de um oceano
demorado.
vem um leve som que escapa
ao longo ouvido da última música
dançada. escapulio com distinção.
mas sim,
existo no black anchor,
e já agora qual é a génese da escrita?

sagazmente
envolvo-me naquilo que busco
entender
por pouco que entenda
importando-me meramente
com o modo com que os teus olhos
despedem-se dos meus.




17.11.20

Um canto, um assobio


Nuno Casimiro

Caminho sem peso, destoado,

Sem chão.

Desperto numa intermitente sequência

                                    De sonhos absurdos.

Não consigo mover as mãos, mas a cabeça

Pensa no canto dos pássaros

Que trazem sempre um novo timbre

Ao assobio descomprometido.

 

Ensina-me a revirar a língua

Mas não tão subitamente.

 

Ainda esperei encontrar a sensualidade

Disfarçada de caracóis negros. A musa das mil noites.

A língua arranha os meandros

De uma boca sem sal, trauteando

Os desassossegos do desdormir.

Musa das sensações,

Mostra-me a bússola que levas no peito

Ensina-me como se chega ao outro lado da corrente.

A língua embrulha-se e escoria as palavras

Desprende-se e adormece.

 

Vou cantar para o rio encher

                     sem ser do meu choro.

 

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