Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

À Beira da Lua

À Beira da Lua

29.04.21

Publicação – Não Sei Dizer Como Procuro Ser Noite


Nuno Casimiro

Este é o lugar onde eu cuido das minhas palavras. Aqui elas persistem e são de todos, mas também pode o seu comércio ser justo e directo. Esta publicação, intitulada 'Não Sei Dizer Como Procuro Ser Noite', engloba vários textos partilhados no blogue ao longo dos últimos meses e culminam agora num momento de extraordinária satisfação.

Quem tiver interesse em adquirir, por 6€, pode alcançar-me através do email nuno.quintas43@gmail.com

Obrigado e boas leituras!

27.04.21

pés de saltos


Nuno Casimiro

volta o barulho às margens
desconcerto com o sol no alto
choca o reflexo das nuvens
e amontoam-se os pés de saltos

agarro um pedaço de vida
o vento sacode qualquer palavra prevista
tu desconfias do diabo
eu confio nas tuas revisitas

já está fora de validade
persistir na tenra idade
destaques inusitados
dão oxigénio ao desbarato

não acredito em promessas
eu nunca vi utopias
estou à mercê dos quilates
em cada degrau que não extravaso

nestes braços perdulários
desenvolvo desembaraços
o contorcionismo nunca foi tão necessário
para chegar mais rápido ao teu abraço

27.04.21

baixa tensão


Nuno Casimiro

embalado pelos vícios de bolso
sou um contra-informação
bebo a luz que me acorda sem esforço
guarnecido de baixa tensão

duplicada a raiz do destroço
sou um contra-solidão
piso a descrença ainda em esboço
tal a dúvida na antevisão

dez mil anos a encarar o mesmo poço
sou um contra-evolução
azabumbo-me e solto o pescoço
a perna cruzada perde razão

assentar e deixar quente o teu lugar
sou um contra-cultura
remexo as ancas à volta do luar
grito sussurros às nomenclaturas

peço mais uma até deformar
sou um eterno contra-rutura
dedico palavras ao fundo do mar
sem adivinhar uma moda futura

este apetite não vai passar
sou um contra-largura
coerência só marcha devagar
em dias de chuva não peço factura

finalizo enquanto pinga no joelho
sou um contra-elogio
em cepa direita corro torto como coelho
ao fim do dia respanço o desafio

26.04.21

acrobata de estendais


Nuno Casimiro

imagino um muro como
um assobio longitudinal
um grito que nunca chega a ser
pleno de sussurro e calafrio.
acrobata de estendais
ziguezagueio a chuva tenra
sem pressa de confundir o chão
que se move para lá do regabofe
em profundidade com as ruas.

falta largura ao choro
que não corre pela face estranha.
suspiro um desatino sem brilho e
remexo palavras sem acentuação
enquanto os rios se enchem
de certezas sobre o alvoro.

aperto um peito estreito
até jorrar sílabas distópicas
pelos olhos que mal se julgam.
desconfio da voz que remato
contra as paredes e o reflexo
pautado pelas arrepsias
transborda um copo meio vazio
na direcção dos sentidos
que se perdem a cada luz indecisa
de um entropeço ramerranesco.

 

vagueio pelas sombras
que carrego
          nas vésperas de
          lua cheia.

que desafogo seria
distanciar-me
de ser
          pelos mil anos
          que hão-de vir.

23.04.21

tons nublados


Nuno Casimiro

a pele treme

toca música nos fundos
chego depois da hora
de ponta de língua embrulhada

deviam ter chamado
as pessoas atentas
para que nada escapasse
à linha horizontal dos dias
fotografados

fustigo as abreviaturas
presas em casa que não é minha
nem arranjo um buraco profundo
na roupa que perde cor
a cada quilómetro que não consumo

e tons nublados

perscrevem o martírio
sobre um último gole
debruçado sobre o
quinquagésimo nono segundo

antes do minuto contagiar a
eternidade impraticável

tocam-se os musgos
barbatanas enferrujadas
de nunca sonhar com o mar

rebenta o sol no ponto mais alto
a pele queima enquanto
já não espanta o contravento
que desbrava sensações
de pernoitar à distância
de um murmúrio pojante
de uma palavra nova

vem um percalço
em forma de poema

e a pele volta a
tremer

Pág. 1/3