06.04.21
contramão
Nuno Casimiro
Persigo o olhar sem fundo
entrelaçado nos ritmos
do terror
de não saber para que se vive.
Calcorreio mnemonicamente
cada esquina à beira
das dubiedades
agachado perante a tibieza
obsequente.
O chão treme com a chegada
de um novo dia.
Batem as doze
a panela acusa a pressão
e o comboio assinala
os tormentos: é hora do almoço.
Tapo os sentidos
escondo as mãos
enquanto respingo
um universo estilhaçado.
Reflicto as causas em contramão
flashes luminosos ofuscam
um compasso
a espera penetra a ânsia
como um cátodo: um bar reabre
dentro de mim.
Tudo parece assomar-se
quando faz sol
para lá da vista distraída.
Desato uma garganta
sem voz
e descubro timbre
nas tuas mãos
falíveis.