Quem sabe se não é desta
que possuo toda a loucura.
Anda aqui isto
que me desassossega –
eu que da cintura para cima
sou lúgubre.
Reacende-se a vela
que dá espaço à noite.
Cruzo as coisas que nunca saberei
e alcanço um paradoxo
que recita sons de fundo.
Sigo um desvaio eterno
em constante reestruturação.
As pernas escondem o peito
que embroma volume
de não saber para que serve.
Mas arroto uma existência
iterável e simbionte.
Quem sabe se não é desta
que possuo toda a loucura.
Anda aqui esta sensação
que me amedronta –
eu que da cintura para baixo
sou tremor.
Ainda me deito em pose de morrer
sem recriar os passos em volta
do mesmo assobio que se intromete
entre os ventos fortes.
Em cada esquina calcorreio
um verbo diferente
jamais pertencente à ponta de língua
que ferra o desatino.
Quem sabe se não é agora
que possuo toda a loucura.
Anda aqui esta comichão
que me assola –
eu que da janela para fora
sou reflexo.
Falta miolo à visão turva.
Medito sobre as horas mortas
sem prestar contas à coerência
que ninguém lê.
Arrebito como um cão
que desespera pela sua vez
de ser ouvido.
Constituo uma frase
enquanto busco uma palavra certa
na esperança de sorver algo
que se diz às escondidas,
em pleno mistério.
Quem sabe se não é agora
que possuo toda a loucura.
Anda aqui esta dormência
que me aligeira –
eu que fora de horas
sou sombra.
Vou ter pulmão
para além da data limite.
Abarbo uma bocada de sol
e com esta nova verdade
poderei aceitar o valor dos espaços.
Logo que tenha brio
tatuarei o tempo demorado,
tanto quanto souber dizer.
Se calhar já ferve a casa
que me pertence.
Mas sim, quem sabe se não é desta
que possuo toda a loucura.