16.07.21
vento de outros dias
Nuno Casimiro
Reassume-se o calor
em órbita de nenhures.
De cima, como num voo a pique,
simula-se o vento de outros dias.
Sem jeito, derramo impurezas
pelos poros que se queixam
da vertigem sem anzol.
Há quem puxe o mar
sem enrolar os medos
e já lá vai quem interrompa
os sons da noite
ao contar estrelas
a mil segundos
de distância.
Fecho uma porta sem som
no cruzamento dos hemisférios.
Enceto um balbucio sem rima
e desconfio até do azul do céu.
Muito se diz abaixo da cintura
sem nunca desvendar o decoro
na ponta da língua.
Quem me dera ser só
um devaneio sem causa.