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À Beira da Lua

À Beira da Lua

16.07.21

vento de outros dias


Nuno Casimiro

Reassume-se o calor
em órbita de nenhures.
De cima, como num voo a pique,
simula-se o vento de outros dias.
Sem jeito, derramo impurezas
pelos poros que se queixam
da vertigem sem anzol.

Há quem puxe o mar
sem enrolar os medos
e já lá vai quem interrompa
os sons da noite
ao contar
estrelas
a mil segundos

de distância.

Fecho uma porta sem som
no cruzamento dos hemisférios.
Enceto um balbucio sem rima
e desconfio até do azul do céu.
Muito se diz abaixo da cintura
sem nunca desvendar o decoro
na ponta da língua.

Quem me dera ser só
um devaneio sem causa.

09.07.21

despedida mal pensada


Nuno Casimiro

respingam as antíteses
à volta da mesma mesa.
sai incólume a brutalidade
de quem insiste em voltar
ao epicentro do desmame holístico.
passeia sobre calçada antiga
o desnorte da maresia ambiente,
quiçá analiticamente enfadada
das dessintonias que esvaziam estéticas.

mãos nos bolsos
vento na cara
assobia-se uma memória.

pés trocados
coordenação aparente
esplanada cheia de vozes.

o passo dado habitua-se ao piso
apesar de esperar ver mais pastilha no chão.
cresce em oposição o conforto de querer sair
rumo à periferia do desatino mundano,
sem qualquer hesitação que amoleça o corpo teso.
paira sob a noite que principia
a sensação das ruas de que ninguém fala,
em jeito de frieza que arreganha a voz
no momento da despedida mal pensada.

passa o último comboio
reflexo no rio
já se fez tudo.

cala-se o barulho
a lua vai subindo
é a noite que finda.