Não sei quantas vezes chorei perante a lua –
desce o pano da noite
sobre quem uiva ao desnorte
tal qual pranto carnívoro
que rasga verticalmente um brilho nos olhos
e desossa idiossincrasias de literatura de rua.
Talvez milhares de vezes tenha escorrido
tinta incolor
entre nós de dedos enrugados
e agastados pelas primeiras
chuvas antecipadas
que principiam a fecundação
dos mitos insolúveis.
Após o breu
chega-me sempre dia claro -
galopa
o cheiro
a girassóis
sempre que encontro um cabelo enrolado
em sussurros breves sobre poesia
que se não faz.
Sou invadido pela brisa antiga
que trespassa a razão de pensar em flor
que esqueço de regar
e cuidar
até mesmo quando ameaça ser primavera
longe
deste peito aberto.
Dou horizontalidade à altitude dos medos
sem prescrever a anti-gravidade
acumulada à volta de um passo trocado
na órbita de um dia caloroso.
Poema estancado que te espera.
Estaciono na berma de um soluço
e conto mil segundos até passar
o dilúvio que me mancha as lentes
que mal enxergam um pedaço rugoso
de vida construída no percurso
de um poema parado.
Penso num corpo que encaixa no meu
e uma lua enche-se de vigor.
Ó céus...
Nao tenho dito coisa alguma
nem nada tenho feito!
Sou um néscio corpo sem mão
enleado em histórias sem princípio.
Respingo a força de mil derrotas
e fascino o bairro por onde já nem passo
com as minhas barbas de rapaz-homem
mas ainda me falta ser voz.
Que tédio integrar sem pertencer
ouvir pestanejando
os nomes falados e cheios de altura.
Paulatinamente deixo de ser,
extasiado no timbre titubeante
do eco que se consome.
Mais tarde concluir-se-á um mover de mão
e o vento que se levanta acalmar-se-á
envolto
num beijo teu.