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À Beira da Lua

À Beira da Lua

28.06.22

breu da noite


Nuno Casimiro

raspa a superfície
e a cabeça espevita
take a dive

roda a mesa
o mar rebenta sozinho

de espírito pétreo,
destrói a imaculação
de um peito cerrado,
ergue o punho impérvio
por cima da estreiteza
em cada barulho.

hás-de lá chegar
quando não houver
só gaivotas em terra.

uma estrela cataliza
um verso          um poema
let's ride

rola a onda sobre a mesa
vede bem esta altura

quando deixar de haver tempo,
derrota as transições entre margens.
invade a explosão
que pertence ao outro lado e
estende a roupa que aromatiza
um calcorrear ínvio.

a aragem que te refresca
pertence ao breu da noite
que desvenda o dia seguinte.

23.06.22

poema parado


Nuno Casimiro

Não sei quantas vezes chorei perante a lua –
desce o pano da noite
sobre quem uiva ao desnorte
tal qual pranto carnívoro
que rasga verticalmente um brilho nos olhos
e desossa idiossincrasias de literatura de rua.

Talvez milhares de vezes tenha escorrido
            tinta incolor
entre nós de dedos enrugados
e agastados pelas primeiras
chuvas antecipadas
que principiam a fecundação
            dos mitos insolúveis.

Após o breu
chega-me sempre dia claro -
galopa
           o cheiro
                      a girassóis
sempre que encontro um cabelo enrolado
em sussurros breves sobre poesia
                                                 que se não faz.

Sou invadido pela brisa antiga
que trespassa a razão de pensar em flor
que esqueço de regar
                             e cuidar
até mesmo quando ameaça ser primavera

longe
                      deste peito aberto.

Dou horizontalidade à altitude dos medos
sem prescrever a anti-gravidade
acumulada à volta de um passo trocado
na órbita de um dia caloroso.

Poema estancado que te espera.
Estaciono na berma de um soluço
e conto mil segundos até passar
o dilúvio que me mancha as lentes
que mal enxergam um pedaço rugoso
de vida construída no percurso
de um poema parado.
Penso num corpo que encaixa no meu
e uma lua enche-se de vigor.

Ó céus...
Nao tenho dito coisa alguma
nem nada tenho feito!
Sou um néscio corpo sem mão
enleado em histórias sem princípio.
Respingo a força de mil derrotas
e fascino o bairro por onde já nem passo
com as minhas barbas de rapaz-homem
mas ainda me falta ser voz.

Que tédio integrar sem pertencer
ouvir pestanejando
os nomes falados e cheios de altura.
Paulatinamente deixo de ser,
extasiado no timbre titubeante
                  do eco que se consome.

Mais tarde concluir-se-á um mover de mão
e o vento que se levanta acalmar-se-á
                 envolto
                      num beijo teu.