22.02.23
lugar comum
Nuno Casimiro
Em cada desatenção
uma primavera brota
De jeito enturpecido
lá se vai escapando o tempo
no fraquejo de quem espera
Fogem-me as flores das mãos
esvaziando o que de si mesmo
jamais uma palavra encheu
Vagamente um assobio ressalta
uma memória hesitante
e um lugar comum estreita-se
Em cada palpitação
uma primavera cede
Rasuro uma intenção
no desdém de uma manhã
trocando as voltas à voz
Passo um pano no pó que se espalha
entre os livros de que ninguém fala
e os dias adensam uma forma de falar
Enrolo um alívio
e fumo-o apressadamente –
amanhã saberei melhor
Em cada suspiro
uma primavera espreita