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À Beira da Lua

À Beira da Lua

25.03.23

movimento retrospectivo das coisas


Nuno Casimiro

trago sempre comigo um sopro
que me esquenta as mãos
e adocica um sorriso escondido

um poema manco que se balbucia
entre as dúvidas e os anseios
entre chuvas e sóis

uma recordação da tua voz
que desperta o movimento
retrospectivo das coisas

sempre se embrulha o mar
sem pé que se esgote
nem rumorejo
sobre as
profun
dida
des

trago sempre comigo um eco
uma promessa que se alonga
arrumada na estreiteza
comum dos dias

24.03.23

poema manco


Nuno Casimiro

eis que toco o chão à margem de uma palavra pesada
sobressaltando a ligeireza de um contratempo inventado
no soluço de uma contemplação sobre os céus.

estendo as minhas mãos no movimento remoto dos barulhos
sincronizado com um café adiado num cruzamento esquecivel
e esgatanho a disforia enrolada no vento que me sarabandeia.

perscruto uma onda sem areia onde construir castelos
que meçam a força de um ímpeto assimétrico sobre um sonho
na retrospectiva de um mar que as minhas mãos não embrulham.

03.03.23

a norte disto tudo


Nuno Casimiro

desconfio deste tempo
diziam que faria frio
a norte disto tudo

esse arrepio só o sinto na barriga
sempre que um cravo murcha
ou quando um girassol esquece
para onde se deve virar

é esta voz que se esquiva
e um mover de mão que se enrola
pela noite dentro

desconfio deste simbolismo
diziam que certas coisas
poderiam durar para sempre

mas não dei água ao cravo
e esqueci de falar com o girassol
sobre como tudo gira

é a luz de uma vela
sem pavio que a sustente
e as sombras dançantes
nas paredes rugosas
enquanto ja só se ouve noite