25.05.23
corda ao sapato
Nuno Casimiro
quem me dera ser sopro
existir na leveza de ser brisa
serpentear conversas gravitacionais
e habitar no vácuo dos pesos insustentáveis
existencialmente mal encaro a metafísica
da rapidez dos planos que me escapam
questionando os silêncios que me pregam ao chão
e retiram vaidade à sensatez
quem me dera ser rua larga
existir na profundidade de um caminho frenético
onde a destreza dos dias descola do murmúrio das noites
e aí ser um instintivo voo de pássaro
até me sinto pronto
quando dou corda ao sapato
mas o piso esbate-se
e não caibo em nenhum quarteirão
quedo-me esperançosamente à escuta
de um prenúncio que me convença
desbaratando convicções sobre luas cheias
e presságios cheios de sumo de fruta velha
dentro do espectro de uma passividade ágil
chegam-me sempre leves notas de sabor solto
que perpetuam filosofias mancas
sobre suspiros e cores que se gastam
para já sou horizonte
existo na artificialidade das coisas
projectando a cada dia um novo rumorejo
de acordo com a brevidade de uma voz alheada