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À Beira da Lua

À Beira da Lua

21.07.23

invenção natural das noites


Nuno Casimiro

Também há brilho
                 ruído sobreposto
o peito até se abre
solta qualquer coisa
cheia de razão

sensação
               ver
                 tigi
                   no
                     sa
perante os olhos que perseguem
o movimento apressado
   das               coisas

desdobramento das virtudes
perpetuamente condensado
na parcimónia de um dia
que sempre se encerra

há um toque singelo nas costas
desvenda-se um beijo breve
descobre-se o seguinte
restaura-se intenção
na invenção natural
das noites

permaneço quieto
e   s   t   e   n   d   o
palavras amarrotadas
parece que por vezes entendi
para que lado se arruma
o tremor

21.07.23

trote melódico


Nuno Casimiro

já chego tarde
venho por caminhos tortos
ouço o rescaldo das subidas
e as histórias enviesadas
que se contam num último sopro

sobra já pouca toalha de mesa
para tanto ruído semi breve

deambulo em trote melódico
escodendo as mãos nos bolsos
ponho a cabeça de fora
                                   [ a prémio
sorvo a espuma de um fino
penso nas paisagens que esqueci
e quase consigo desenhar uma intenção

as mãos movem-se em semi círculos
esfregam ansiedade que escorre p'la testa

volto a subir até onde já não respiro
procuro rima
uma sombra q'imortalize
o ritmo de uma perna q'adormece
ou um coração que bombeia
trânsito parado dentro de mim

fico quieto
desenrolo as mãos
hoje ninguém estendeu roupa
sobre a estrada que se desdobra

09.07.23

hortênsias


Nuno Casimiro

não papo grupos
tampouco me imiscuo
noutros tempos invejava
calores que não me atingiam
já só procuro o refúgio das noites
o cheiro a flores nos cantos mais recônditos
o silêncio do conforto de saber que posso ser
sem pretensão
baralho-me entre as hortênsias que pensas roubar
embrulho definições na paisagem que não foge
tampouco hesitando sobre descer declives
que esticam aos pés de pedaços de água
entre curvas rígidas perpetuam-se fontes
talvez escoando dizeres rugosos e sãos
ou sagazmente vertendo uma
forma de matar a secura

ingenuamente creio em montanha
cruzo a perna entre silêncios
apalpo serenidade
que bom é
não ter só planície por onde
perscrutar a ondulação do meu eco

08.07.23

balcão


Nuno Casimiro

De paleio açambarcado
pela simplicidade do fino
rabisco uma sensação de pertença
por cada rua que corto
para chegar mais rápido
à última sombra fresca.
Caras pitorescas rodeiam as vistas
de espírito pétreo reclamam
erguem o punho
perante as nuvens súbitas
que transpiram o verão.
Ainda se estendem lençóis
na orientação dos passeios estreitos
sob o olhar torto que segue de passagem
sem decorar o nome das ruas largas.
Vêm línguas de fora
de nariz estendido e alertado
já cheira a rojão ao virar da esquina
onde há balcão para esticar anseios
e gente que multiplica em toalha de papel.
Conto os trocos que tilintam na algibeira
acrescento de fininho mais uma palavra
daqui já lhes levo a loucura de persistir e
seguir sem permitir o peito de cerrar.

Barrigas avolumam-se
                    sobre a mesa
                         roda a moeda
                             é minha vez de pagar.

07.07.23

estonteante velocidade dos dias


Nuno Casimiro

volta e contravolta
sensação que volta contra
o sentido dos ventos.
para que lado está mais calor?
aquece uma certa ostentação
em lume brando sem pressa
descontraindo uma forma saborosa
de mastigar palavras chave.
sigo a vossa brisa
que desvenda uma sombra fresca
já suo pelos bigodes
a estonteante velocidade dos dias.
entretanto entre tanto que se diz
esqueço a roupa no estendal
e estala verão lá fora
só quero mal querendo
uma tarde inteira de refrescos
absorver estrada que se estica
e procurar comida de rua.
devagar com vagar
abro a porta de casa
e digo ao que vou sem rodeios
nem que no regresso apenas
te traga flores que colhi
de peito rasgado.

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