Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

À Beira da Lua

À Beira da Lua

22.03.24

falta de interesse


Nuno Casimiro

dei-lhe poema pr'assobiar
mas ela mal sabe da cadência
incipiente refresco de bolso

âmago do desânimo
pêndulo esdrúxulo
viagem de passagem
conflito sem atrito
mão supra aflição
cruzada perna desfiada

tête-à-tête sobre o sul
sabe a cerveja larga
saudade mei-filtrada
é o fim da semana

céu alaranjado calor abafado
diz que são umas poeiras de áfrica
diz também que há muito pólen no ar
primavera ou deserto?
talvez ir talvez ficar
voltar nem se questiona
diz que o ir demora tempo
ficar é mais rápido
voltar nem acontece

dei-lhe poema pra trincar
mas mal sabe ela da carência
residente atmosfera avulso

suaviza a saída da baliza
tempestiva corrida
tentativa furtiva
atenção redobrada
não há mão sem fachada
maldição virou coisa acertada
mas
e viste o golaço?

quem não vê pouco pode crer
mas diz que é falta de interesse
diz também que tem que haver iniciativa
forçada ou instintiva?
poesia às vezes
prosa pautada por enters
mas a cerveja alarga-se
e o poema cresce

dei-lhe pauta pra cantar
mas ela não se guia pelo mapa

05.03.24

vagaroso encarquilhar de pele


Nuno Casimiro

sombra que delineia
o dito por não dito
entrelinhas
agiganto contradição
interrupção, perco raciocínio
rodada paga, vaticínios
rola o dado poker real
fico danado, mais um gole
políticas de guardanapo
arregaço as mangas
troco sussurros, promessa
de repetição, amor
cumplicidade invernal
pernas esticam intenção
surfo caracóis ansiosos
terra à vista, bonança ao largo
da cama, noite que esquenta
olhar que repara, agarro um
vivo sentido, beijos na boca
sabores matinais, vertigem de
tensões, batimento cardíaco
sobressalto, um abraço fácil
frágil excitação
vórtice de passagem
onda enrolada, estreiteza
umbilical, primeiro gracejo
complemento de mão
tournée pelas tuas curvas
olhos, ignição na voz
encore hesitante
sensualidade cessante
processada suspirada
cheira a sol e passeios longos
mergulhos em piscinas
de secretas profundidades
quero-te
antes que eu me extinga
e que o mundo desperte

levo às costas suplício
vagaroso encarquilhar de pele
é mochila vazia
é emprego temporário
é corpo que se avoluma
é passo que não se acerta
é frágil assumpção da palavra
que gáudio é ter postura e
um mover de mão com proposta
substância consequência
fortuito almejar de um poema
repara, perna encolhe
deixa de haver urgência
premonição, tendência ao
quilo, joelho range como
dente, ideia premente, oblíqua
determinação, didascálias sem flor
é uma praia sem beira mar,
uma vista sem céu, cede breu
amar com falta de ar
arrastar palavra e pensar :
amanhã será diferente
isto se fizer sol

repara
que cada vez
há mais intenção