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À Beira da Lua

À Beira da Lua

11.04.24

vaga de calor


Nuno Casimiro

self-centered forma de estar
não atina com explosão
que vem com o ar.
entre calmarias chega
tempestade sem atraso
tampouco aviso. entre copos
largos acontece voz grave
e como lidar? nem bolso
trouxe que trocos aguente
mas haverá disponibilidade
que trate pulso frágil e
adocique identidade?

não tenho coração que chegue

não sei
habituei-me a dormir
sobre duas almofadas
mas prendo-me na análise
dum cão que rói peúgas
e de cama sem abraço

transpiro futura vaga de calor
avizinha-se bafio de coisas por ver.
eco de synthwave nas 9-6
encerro mais cedo os olhos
pra não acumular bagagem.
entre imitações de outras coisas
sempre apanho folk que resume
viagem e retorno.

não devo mesmo ter
coração que chegue

vou sabendo
lá chega a dita vaga
que vem pressionante
como revolta de preia-mar
em manhã de bandeira amarela
hesitante tesão de mergulhar.

estranho distância
que me separa de horizonte

em sonhos sou sussurro
como mar que te chama

anda anda
e tu
ficas ficas

mas sei bem
como se sofre co'calor

10.04.24

paciência em jeito de ternura


Nuno Casimiro

fartas pratadas de amor e o tempo
passa devagar/restam sabores decorados
e imagens tratadas duma panela
de pressão a chiar/massa com feijão e
modesta singularidade/o segredo
'tá na
   qualidade
      da hortelã

poema em anexo pintando corpo que
já viveu/memória pouco se engana na
articulação dum pensamento longo/
tudo está bem havendo cunho/faz-se
rima com a comida ao lume

paciência
                 em jeito
                               de ternura

impressão entre detalhes/faz-se tarde
ainda antes de aparecer língua esguia
tecendo música ao sol/rodopia beira-mar
em lodo denso/sintetiza maresia pelo
joelho/voltar aonde o arrepio pertence

temer
ondas gigantes
            a cada novo
                         rumorejo

aprende-se um movimento de mãos/
prende-se entre elas um sopro que vira
assobio/coisa que aquece e que se não
esquece a cada véspera de prenúncio/
chuvas fartas onde me quedo e o tempo
corre desalmado/a porta trancou-se no
beco de tudo o que alguma vez conheci/
só queria um prato de sopa ao domingo

de passo lento
     acerto tempo e tempero
                  – condensada mania
                               de melodia fugida.

08.04.24

vai cheirando a primavera


Nuno Casimiro

vai cheirando a primavera
a/curtos/espaços
os ramos diante
       continuam despidos
mais tarde far-se-á cor e definição
daqui a nada virá calor e sofreguidão
já pressinto gota a correr pelo pescoço
janelas abertas
       espanta surpresa amorfizada
       bafo/mofo/varre ideias enroladas
roupa estendida na rua
regresso ao estado + natural das coisas
verborreia nua sem nuance
que espanto será um eco
sobre uma tela crua/por estrear
       sequência de barulhos conhecidos
       ouvido atento não decora muito
dentes rangem palavra arrastada
pautada sensação de estar perdida
destemido quartzo com gota isolada
será minha esta boca faminta?

vai cheirando a primavera
a certos espaços/dantes eram longos
toque leve na tua pele
cadê beijo/amor macio
persigo
encontro
cheiro
flor
encontro cheiro persigo flor
persigo flor encontro cheiro

passeios verdes
poema em forma de ilha
amor em forma de mergulho

quem me dera respirar
                  debaixo d'água
                         /entre mistérios
                                          ser sopro

08.04.24

abraço adiado


Nuno Casimiro

enfim calor disfarçado
passeios e maré viva
pensar alto em peixe assado
defronte para o mar que se esquiva

há sempre este vento que empurra
não raras vezes sopra desvio
desabotoada sensação de chuva
que impregna os dias sem pavio

trespasso loucura alheia
desfiando a simplicidade que habito
investigo rima de boca cheia
desatinado pela noite que transpiro

passam as semanas sem mana
entre dedilhar de pele que envelhece
já arfa o cão sem passo nem chama
sem a faísca que tudo aquece

sinto que sou abraço adiado
confirmação terna de furtividade
repito o dia e finto o embaraço
conclusão amorfa de necessidade

mais dias virão
mais um dia que se fez
penso viagem e transição
concluo avô e sensatez

05.04.24

flor que se ergue ao relento


Nuno Casimiro

precipita-se um dia sem neblina
entre rios de chuva cinzenta
cedência da esperança num dia calmo
transforma penumbra em ideia nova

como peixe seduzido por anzol
percorro miradouros já sem pêlo em venta
consequência de medir simbolismo a palmo
sensação contemplativa de palavra nova

principia-se um desfecho sem cortina
mansa é a forma de encarar na certa
a decadência duma alma sem salmo
sem filtros para esfumaçar a boa-nova

como gente que se põe a pensar
mastigo um momento que se apressa
mais além há gaivota sem mar
envolta na sua dança desperta
há barulho que se levanta
militante sabor a revolta
cresce murmúrio a zeca
neste dia que se entorna

galopeia um cheiro a perfume
pujança de flor que se ergue ao relento
traz outro sentido também vislumbre
em resposta ao ritmo pardacento

há quem assobie sem vexame
como as coisas boas ao sabor do vento
traz vontade de contrariar o enxame
que é enxutar o vozeirão bolorento

enceta-se assim um ciclo febril
chegou de mãos enleadas na primavera
mas sempre haverá muita voz de reserva
para fazer acontecer um novo abril

como gente que se põe a pensar
conjugo os momentos que se esticam
mais além há gaivotas sem pesar
sem olvidar mares que as romantizam
há silêncio que se estranha
tilintante sensação desenhada
vejam bem que o mal já se entranha
entre desvios da atenção estagnada

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