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À Beira da Lua

À Beira da Lua

31.08.24

que se diga que entendi


Nuno Casimiro

Guardo um suspiro
para mais tarde : p'ra já
fermento sossego.

Devagar decoro os caminhos
calcorreados entre calores.
                Já sei onde tropeçar
                a cada ímpeto arremessado.

Abano uma nova ideia
para ver se já não treme.
                Que se diga que entendi
                como um desejo se esvai.

Guardei o suspiro
para quando o nevoeiro
adensa : mas já o soltei.

30.08.24

como a estrada se curva


Nuno Casimiro

Às vezes
só quero um sítio
onde pousar a cabeça

Sim, às vezes
a única coisa em que penso
é onde pousarei a cabeça alongada

Debruço-me nesta coisa recorrente
faz comichão e eu sem nunca
encontrá-la, Que coisa será essa?
Qu'enigma se hesita?

Engulo a avenida com pressa
como um pedaço de pão
e digo que vi como a estrada se curva –
depressa não sei de mim

Por vezes
só quero um sítio
onde pousar a cabeça

27.08.24

sentido da brisa


Nuno Casimiro

Sentado de costas
para o sentido da brisa:
olhos fechados remexendo no vento
um verão que nunca se completa.
Alcanço um calor
que mal aquece a pele,
tão distante quanto o tempo
que dança além mim.

O sol pálido esconde-se
atrás das nuvens divididas.
Corto o verão ao meio,
como a minha avó corta o pão:
fatias grossas de dias que se esvaem,
migalhas de horas que caem no chão.

Sobre o peito, uma faca serrada:
o peso do que sempre foi.
A lâmina atravessa
depressa
os centenários que carrego,
fantasmas duma vida
vivida p'la metade,
no compasso de uma
respiração entrecortada.