13.09.24
como se o vento me levasse
Nuno Casimiro
Como se o vento me levasse
quebro um sussurro para espantar males
que nem sempre vêm por indecência
tal é o rodopio das quebras de espírito
pelas dezasseis e tal da tarde.
Como se o vento me lavasse
fecho o olhar torto para assumir melhor
mesmo sem cuspir o desdenho da manhã
tal é a pressa em sacudir-me ao acordar
mesmo sem maré que me empurre.
Como uma desatenção que me enlaça
não digo ao que venho porque nem isso sei
mas sempre deixo crescer a barba
para ter onde encaracolar as dúvidas
e pensar bolaño quando a noite me encontra.
Como se uma atenção me desdobrasse
quedo-me bem atento aos movimentos
cruzo a perna e enrolo um corpo pensante
ainda que todo o vento não consiga
com o peso desta sombra.