25.02.25
espasmo de mão trocada
Nuno Casimiro
tão impaciente esta forma de estar
tamanha pressa de olhar quem passa
contemplação demorada
perante o murmúrio dos dias
tresloucada e estapafúrdia sensação
ritmada entre balbúcios e incertezas
quanto ao tempo previsível
atentamente bem reparo
na forma como se deve
sorver o café quente
ou saber que vem aí chuva
só pelo cheiro
bem rápido e sem lembrança
o fevereiro avança
já me custa contar
os anos já deve ter sido há uns sete
desde a última vez
que fui grito – ferocidade
de saber quem se é
espasmo de mão trocada
encaro a cara que visto
sem disfarcar a gaguez ansiosa
de dizer coisas já pensadas
distração alavancada
premeditada oração
perante os dias comuns
tão fictícia esta forma de estar
tamanha cumplicidade desfasada
já fui um só mover de mão
uma ideia trancada
um beijo de grande proporção
um peito inchado de certeza e dicção
far-se-á novamente soluço reativo
até que esquente e já apeteça mergulhar
e cegamente pensar sensações decoradas
ou memórias emprestadas –
incerteza de recordar quem se foi
contemplação pautada
orientada desconexão
enrolado na fragilidade da língua
recito alfabetos confusos
à espera que a amendoeira dê flor