05.07.25
triplo salto para o vazio
Nuno Casimiro
paralelamente àquilo que possa sentir, sempre
brota além-mim discordância. é com parca
legitimidade que me amparo e sereno os ânimos
dum coração aos pulos qual campeão olímpico
de triplo salto para o vazio.
persigo um tempo mais puro, nem que seja entre
manhãs enroladas em incertezas sobre o que
fazer de almoço. faz tanto calor que as ideias
derretem-se ainda antes de serem pensadas. só
queria ser uma breve brisa mas já me cansei de
desejar tal coisa. a conclusão é que jamais serei
um momento leve.
sigo enleado. persisto assimétrico e sem mortalha
que me enrole para o lado certo dos sabores. o
que me custa mais é encontrar a primeira palavra e
dissipar a incerteza tingida em gaguez embaraçosa.
após sentir-me certo, nasce raciocínio. recapitulo-me
sempre mais orgânico nos momentos que seguem
um poema que não disperse, mesmo que manco
e sem cor.
tenho quem me espere mas já vou lá ter. só
precisava de me reencontrar.