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À Beira da Lua

À Beira da Lua

30.08.25

frescura jovial


Nuno Casimiro

respinga para o outro lado, voz cega,
porque daqui já pouco levas,
apenas roupa esquecida no estendal.

estico o passo e regulo o corpo trancado.
já escutei melhor o que outrora se rumorejou
sobre a viragem do tempo.

[ oh, simplicidade de chuva veranil...
como desejo ser essa frescura jovial
num dia quente...! ]

repito, sou roupa esquecida
nos estendais. já sequei propósito
e ficou a faltar renovação.

pego de estaca num instante
e assumo uma rua compilada
em desacertos.

[ oh, honestidade dum dia que finda...
como desejo ser o limbo
entre o teu início e o teu fim...! ]

26.08.25

espectro do silêncio


Nuno Casimiro

a partir do rasgo voraz duma vulnerabilidade solta
reparo que de pouco vale ser veloz
não só na emoção
tampouco na palavra

por vezes só através da distância ou do tempo
é que alcanço um certo tipo de rigor
não só no pensamento
sagazmente no espectro do silêncio

interpreto o verão que vai chegando ao fim
e reparo nos mergulhos que não cheguei a dar
não só no vasto mar de hipóteses
tampouco num extenso mar de verdades

não raras vezes fico quieto e gosto disso
sempre se toca um qualquer movimento puro
nem sempre real ou assertivo
inviamente na perspectiva da paragem das horas

03.08.25

suspiros de plenitude


Nuno Casimiro

já cansa trautear a mesma parcimónia
revestida na melancolia que não se estende
para lá das sensações mais verdadeiras.
sempre viro o dia lento na direcção
duma essência mais apressada
ou superlativamente sucinta.

nesta habilidade arrasadora
de me perder de vista por entre as mãos trémulas
encurto o passo em trânsito cegamente calculado.
sempre fico nesse ponto cru(el)
sem me deixar cozinhar nem adivinhar
embrulhado na derrota dum espírito estreito.

eventualmente
hei-de ver esse horizonte promissor
disfarçado de oásis e suspiros de plenitude.

         incansavelmente
         hei-de nadar até à margem mais deserta
         e nesse vislumbre perscrutar lugar comum.

                serenamente
                desenvencilho-me das fantasias
                dando azo às fragilidades do que sinto.

01.08.25

silêncio duma coisa esquecida


Nuno Casimiro

desço com a corrente
emaranhado em braçadas curtas
e goladas estreitas;
entre memórias de pé solto na areia
                 estanco a maresia
                   que me sobe ao nariz

desejo búzios e o seu sabor a mar
olho maré vazia e o reflexo dissolvido
num horizonte vertical

            liberto melodia
             no silêncio duma coisa esquecida

lentamente reconheço a minha voz
outrora embrulhada e remexida
remetida à desatenção

desenho coisas para te dizer
de pulmões abertos e coração na mão

              envolto na fragilidade desse movimento
               engulo a seco a impermeabilidade
                dum dia igual a qualquer outro