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À Beira da Lua

À Beira da Lua

15.07.24

insensatez de ter onde ir


Nuno Casimiro

Há sempre este chamamento
algures preso entre a intenção
e o enjoo de voz arrastada.

Por que não procurar sol
calmaria e peixe fresco?

Não há nada de errado em
ver o tempo passar
sem fazer grande coisa.
Faz-se tão pouco mesmo tendo chance.
Mas o que fazer nas entrelinhas?

Quedo-me alumiado
por um breve regresso
a uma memória feliz.

Não lhe toco há meses.
Por vezes nem me atrevo
tal é a insensatez de ter onde ir.

A novidade vira padrão
e após a fartura vem preguiça
como qualquer dia mais cheio.

Já nem penso nisso com pujança.
Tocou-me novamente este vazio
sem palavra nem jeito
só frio.

'Tá tempo desconfiado outra vez.
Julgo ver pingar memórias de assobios
entre fugazes raios de sol
que intermedeiam
                      as pausas
                           entre quarteirões.

27.06.24

sol


Nuno Casimiro

há estas alturas pouco
      de
        sen
           ven
       ci
lha
         das

malparece
esperar sol

bate chuva miudinha

na ingénua forma de acordar
esgadanho a cara
que ainda suspeita
das caras que finge

p'ralém disso
invento novas formas de sentar
tal é a paranóia da rotina de estar

p a r a d o

parada é a curiosidade
de pensar poema

estaticidade. dilemas elásticos
de fazer um dia parecer menor.

cruzo novamente a perna direita
sobre a esquerda

nem consulto a app do ipma
apesar de ansiar um mergulho
num pedaço de água qualquer

<<< gaivota em terra
        tempestade no mar >>>

na tradução perde-se
o crocitar

alcance com certeza
concerteza

faço um novo cigarro
sabendo já para que lado
enrolará o dia seguinte

03.06.24

sonos iguais


Nuno Casimiro

recomeço

rebobino palavras
que se adiantaram
perante a velocidade
                com que o calor
                          sempre chega

é hora de absorver coisas novas
por mais que tudo partilhe
o mesmo sabor

falta pisar mais relva mais vezes
sujar o sapato e trazer de volta
a leveza de verão

aguço o gume
duma sensação rasgada
espreito o sol e abro o peito
                      talvez até tenha algo
                                              para dizer

engraxo o espírito e adopto nova cor
pego de estaca quem julgo ser
por mais que me canse
dos sonos iguais

14.05.24

doses erradas de arroz


Nuno Casimiro

Folclore,
              impulso :

              porém distância.

Poço escuro : seco : eco.
                Avista-se fundo
                e cantigas doutros
tempos.

Fico à beira do sobressalto. Gole
em seco, Mais cerveja.
O copo levo-o eu
para casa. Dá jeito para medir
                                            palavras
e doses erradas de
arroz.

Procuro os teus seios
com as minhas mãos
incertas. Pureza,
subtil espanto de
coisa
          indubitável.

Quedo-me orgânico, Suspiro
anseios. Salto um batimento
no roçar do fim do
dia.

Atei demasiado
um pensamento, Folclore
prossegue
e eu a pulso desleixado
                       distancio-me.

03.05.24

porto de prato farto


Nuno Casimiro

ando aqui à volta doutros dias
repetindo um hemisfério qualquer
colhendo flores em sonhos e
desdenhando bruteza de alma difusa

faço caras desgrenhadas
solto um sopro salobro, Falta
desatar a cabeça que seguro
entre as mãos
                pouso o corpo
mimo as penumbras do silêncio
                     tendo em conta o
preâmbulo prematuro
das certezas mais
manipuláveis, Sufoco
limpo as mãos à falta de ar

dou conta da garganta
mais seca
agarram-se as
palavras a uma gosma
                                    lívida
sentido sangrento : mais fumo,
Silêncio
gesticulo um vento norte
fugacidade peristáltica, Mundo
inteiro um nome esquecido
a minha mãe : origem : corrida

rapidamente faz-se noite
num porto de prato farto

         arregaço um percalço
                                  na certa encalho
turvação