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À Beira da Lua

À Beira da Lua

30.11.20

a rebolar se vai


Nuno Casimiro

hoje em dia escrevo regularmente
no bloco de notas móvel em jeito tele
mas lá consigo levantar o pescoço
para acompanhar
surdamente (solenemente)
o ciclo lunar.
regresso aonde soube ter presença
fiel ao descompromisso inerente
nas têmporas de meia lua
sem brilho.

lá vou eu,
não andando mas a rebolar
se vai,
enquanto o coveiro das mil noites
fala sobre os cortes de água
na sua rua de sempre
no descanso de um dia atarefado
a recuperar crenças do outro lado
da memória.
o coveiro já eu o havia visto
numa das mil noites
no tasco deste lado da ponte
descomprometido do peso da farda
num regresso a beber sem copo
sem prestar atenção aos murmúrios
de quem ri mais alto.

fiquei de ir à segunda garrafa
mas não pára de chover mesmo aqui em cima, no topo dos gritos
de quem sofre se não vir vénus,
o doce olho do infinito.
penso no coveiro
se ele levou a pá de casa
na primeira noite.
tem a cara ampla e de quem bebe cerveja
só para respirar um pouco.

assisto à constatação visceral
da ausência de melodia
na voz de um anjo
que não nasceu para o ser,
enfiado numa gaiola imperceptível
amarela que foi azul
perdendo o pio mal veio a tempestade.
penso nas covas ainda vazias
que o coveiro escavou à pressa
numa das mil noites.

só resta o cheiro das noites
e a chuva que nenhuns olhos enche.

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