18.09.23
passeio dos alegres
Nuno Casimiro
semeei uma intenção
e dela pouco brotou em realidade
o fascínio na órbita da passividade
acompanha o vento que segue vertiginoso
neste dia que sussurra chuva e solidão
o desconforto que se apressa
confunde-se numa rua serena
pautado por sôfregas investidas
numa cerveja estrangeira
entre vozes que contam como têm passado
ou lábios que seguram cigarros hirtos
decorei o eco sobre um filme que vi
tentando extrair algum perfume
que adocique uma forma de pensar
reinvento outra observação
a cada esquina que bafeje
uma perspetiva de poema
mas sinto-me nulo
e quedo-me quieto
ao sabor do fresco
de um setembro ainda
por fazer esquecer verão
sentei-me noutra rua
reparo que me sabe melhor
a cerveja portuguesa
esta mais agitada e conversadora
no largo acerca há uma pequena feira
por onde passam os mirones entre gracejos
respeitando a rota do passeio dos alegres
como sempre diz o meu pai
entre eles um chico fininho
na verdadeira assumpção da expressão
na amplitude da sua estreiteza
simula a postura de quem sabe onde vai
sem merdas sem tempo para respostas
voando no passadiço com cabelo dylanesco
estico as meias amarelas
e passeio ao largo da minha inércia
reparo nas cores nas línguas trauteadas
ouço as dores alheias cães que se emancipam
a perna adormece e não consigo ir a nenhures
é dar-lhe tempo enquanto se faz noite