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À Beira da Lua

À Beira da Lua

01.08.25

silêncio duma coisa esquecida


Nuno Casimiro

desço com a corrente
emaranhado em braçadas curtas
e goladas estreitas;
entre memórias de pé solto na areia
                 estanco a maresia
                   que me sobe ao nariz

desejo búzios e o seu sabor a mar
olho maré vazia e o reflexo dissolvido
num horizonte vertical

            liberto melodia
             no silêncio duma coisa esquecida

lentamente reconheço a minha voz
outrora embrulhada e remexida
remetida à desatenção

desenho coisas para te dizer
de pulmões abertos e coração na mão

              envolto na fragilidade desse movimento
               engulo a seco a impermeabilidade
                dum dia igual a qualquer outro

20.08.21

pé fora de tom


Nuno Casimiro

mal me queira

Transversalmente dir-me-ão

que já não há búzios na areia
que permitam escutar
as canções do mar.
Nas raízes viscerais das florestas
por onde ninguém passa
ostentarão o mistério do silêncio
sem lhe saber tocar.

bem me queira

Tangencialmente indicar-me-ão
os detritos que fustigam
quem tenta ser mais
do que uma repetição.
Nas idas e voltas rotineiras
passarão tudo a pente fino
evitando olhar por cima do ombro
que se encavaca a cada dia.

mal me queira

Tendencialmente exonero-me da mesa
assentado nas mãos dissimétricas
orfãs de harmonia singela
e de pulso rotativo.
Revigoro-me na total dissonância
de um pé fora de tom, reentrando
agilmente nas derivações de um sonho
que sagazmente cumprir-se-á.

bem me queira