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À Beira da Lua

À Beira da Lua

24.04.24

recapitulação duma lua cheia


Nuno Casimiro

ao teu lado faz-se jornada
corrida em jeito cíclico
partilho tudo o que sou
ou consigo ser
banho-me em tudo o que tu és
e brilho com o que te permites ser.

cheira a manhãs de leve acordar
este privilégio de ter-te tão perto.
as estações alteram-se
sem dar conta da pressa
com que o tempo corre.
na companhia das flores
que se erguem,
e das árvores que
ora se despem
ora se enchem de folhas
mal as chuvas
nos dão tréguas,
anoitece sob a batuta
deste amor embevecido e
amanhece na constante
recapitulação duma lua cheia.

quero passear contigo
entre montanhas
e florestas,
desmistificar praias
e amarrar amor
num mergulho impetuoso.
quero agarrar num beijo
que ficou por dar
e multiplicá-lo em
outros milhões deles
que dar-te-ei ao longo
das primaveras que nos restarem.
quero ficar naquele instante
precisamente antes
de nos encontrarmos
e alimentar-me do êxtase
que é esperar-te, olhar-te
e entender mais uma vez
o quão vaidoso
pode ser um sentimento.
quero ser abrigo que procuras
e ouvido que escuta,
uma mão entre os teus
caracóis doces e
beijo suave na tua face.

porque
és sol que aquece e ilumina
lua que enche e guia entre brumas
vento que empurra e estimula
caudal de rio que refresca e purifica
poema vivo e respiração.

o meu amor é teu
e tu és o calor
na vida.

29.10.21

vem aí chuva


Nuno Casimiro

vem aí chuva
sou pequeno como a primeira gota
microscópica que anuncia a dor de joelho

deve ser de persistir
em andar atrá do tempo
que se imaginou em cada contracurva
na paisagem que sempre foge
pela janela de um peito vazio

os dias tropeçam na noite
faz-se silêncio na iminência
de uma sílaba mais cerrada

corta o vento pelo caminho
que nunca se escolhe e
encolhe a língua sem dizer ao que vem
falaciosamente cumprindo a indiferença
que cresce apertada

vem aí chuva
sou um pequeno nada
como um dia taciturno de inverno

desaparece o brilho
numa troca de cadeiras
ninguém deixa esquentar o desatino
de viver sem sobressalto que exaspera
uma palpitação inesperada

inda vou a tempo
comprei o bilhete das treze
para longe da vista desarmada

apalpo os bolsos e julgo ter condições
de trespassar o nevoeiro vespertino
não encontro nenhum medo
nem hesitação que me faça coçar
o pesadelo que me insinua

têm dito que vem aí chuva
talvez esperasse a maior precipitação
para terminar o pesamento