Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

À Beira da Lua

À Beira da Lua

22.03.24

falta de interesse


Nuno Casimiro

dei-lhe poema pr'assobiar
mas ela mal sabe da cadência
incipiente refresco de bolso

âmago do desânimo
pêndulo esdrúxulo
viagem de passagem
conflito sem atrito
mão supra aflição
cruzada perna desfiada

tête-à-tête sobre o sul
sabe a cerveja larga
saudade mei-filtrada
é o fim da semana

céu alaranjado calor abafado
diz que são umas poeiras de áfrica
diz também que há muito pólen no ar
primavera ou deserto?
talvez ir talvez ficar
voltar nem se questiona
diz que o ir demora tempo
ficar é mais rápido
voltar nem acontece

dei-lhe poema pra trincar
mas mal sabe ela da carência
residente atmosfera avulso

suaviza a saída da baliza
tempestiva corrida
tentativa furtiva
atenção redobrada
não há mão sem fachada
maldição virou coisa acertada
mas
e viste o golaço?

quem não vê pouco pode crer
mas diz que é falta de interesse
diz também que tem que haver iniciativa
forçada ou instintiva?
poesia às vezes
prosa pautada por enters
mas a cerveja alarga-se
e o poema cresce

dei-lhe pauta pra cantar
mas ela não se guia pelo mapa

29.03.21

olhar cruzado


Nuno Casimiro

Caminho desajeitado
a passo largo e apressado
sob o olhar cruzado
de uma lua que antes de encher
já mal se deixa ver.

Afogo o peito em medos
e sinto nas pontas dos dedos
um destino que ninguém cumpriu.

Sou puxado em frente e
a cada segundo ajeito as lentes.
Repenso a voz por trás dos dentes
enquanto tudo escurece
sem ritmo nas preces.

Humedeço a boca cheia de urgência e
enleio as palavras sem cadência.
Um calor súbito restabelece o grito.