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À Beira da Lua

À Beira da Lua

27.06.24

sol


Nuno Casimiro

há estas alturas pouco
      de
        sen
           ven
       ci
lha
         das

malparece
esperar sol

bate chuva miudinha

na ingénua forma de acordar
esgadanho a cara
que ainda suspeita
das caras que finge

p'ralém disso
invento novas formas de sentar
tal é a paranóia da rotina de estar

p a r a d o

parada é a curiosidade
de pensar poema

estaticidade. dilemas elásticos
de fazer um dia parecer menor.

cruzo novamente a perna direita
sobre a esquerda

nem consulto a app do ipma
apesar de ansiar um mergulho
num pedaço de água qualquer

<<< gaivota em terra
        tempestade no mar >>>

na tradução perde-se
o crocitar

alcance com certeza
concerteza

faço um novo cigarro
sabendo já para que lado
enrolará o dia seguinte

19.02.23

breve


Nuno Casimiro

                    Volto
de onde parti
a cada quarteirão que não conheço.
Rasga a chuva tímida
                                 que cai
um sol ansioso por dizer de si,
tal como um corpo cansado
de ter fome sem saber onde comer.

São só            re
                             dun
                               dân
                           ci
                    as
e o pensamento _________
de súbito.
Sinto-me eternamente à espera
que se rasguem os céus
com toda a intenção
de haver mais brilho.

     Ai, quem me dera ser breve!

 

09.12.20

passo de marcha


Nuno Casimiro

Caminho à chuva e os olhos embaciam
de terror. Não procuro nada –
mas ainda espero um leve enquadramento
com os rios que sempre descem
para tão perto do desassossego
dum sol posto.
Os ruídos pouco diferem
nem os sabores acrescentam algo
à língua fria dos muros longitudinais
da minha mera presença num bar
que parece o estrangeiro;
em cada gole sôfrego
numa cerveja demorada
abraço o espírito e
penso a que horas se fará a noite
ou se fiz bem em fugir das memórias
quase em passo de marcha
com um sentido de revolucionária solidão.
Fiz-me gente em tamanho
e a voz engrossou
em cada ânsia mal pensada,
em cada ângulo mal calculado.
Tudo nisto é matemática impenetrável.

Continuo sem vocação e já pouco falta para o dia seguinte – apenas sonho o que nunca lembro.