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À Beira da Lua

À Beira da Lua

28.02.24

singela tentativa de frescura


Nuno Casimiro

contemplação
day by day by day by day
a seguir a domingo é quase sexta
fôlego renovado barriga limpa
sentado num degrau
ainda agarro um raio de sol
penso montanha cruzo calçada
subo elevador paisagem calada
seca compostagem de desânimos
põe na conta pois não tenho vontades
para suprir outro dia sem ego verdejante

oportunidades póstumas
de dizer como se corta queijo
posto isto tenho saudades
bem sabia deixar passar o dia
lento sabor perdura sensação
calor maresia cascabulho
búzios e pão torrado
poesia à beira rio vozes distantes
parte de uma conclusão indulgente

estrada que se alonga nuvens a rasgar
som que se afunila vento a soprar
saber estar onde se pertence
pedaço de terra limoeiro invasivo
cheiro a café fumo expansivo
perto ser longe longe ser evasivo
sabor a primavera desejo primitivo
vem-te daí moço não vale melindrar
conquilha miúda roda bem o calcanhar

contemplação
by day by day by
cadência dissimulada o interlúdio
alarme activa deslumbramento
resta o extraordinário a expectativa
ainda não lhe pertenço
não se vê mas colectei gotas de chuva
singela tentativa de frescura
ténue fluidez palavras organizadas
formas despachadas de assentada
lá agarro o raio do sol tentação cruzada

day by day
contemplação

15.12.20

inverno dúbio


Nuno Casimiro

O dia chega
sempre estancado
entre duas noites
de contemplação.
Há um respirar súbito
quase cego
instintivo
que morde os cotovelos
e arrebita as ondas
que preconizam
um mar de certezas vãs.
Enrolo os desconcertos
em cigarros mastigados,
demoro-me na busca
das sílabas que concretizam
um dizer calorento.
A partir das cinco já não há sol
nestes dias de inverno dúbio,
mas pouco lastimo
as derrotas dissimuladas.

Cairá a escuridão
e com ela o silêncio.