27.04.21
baixa tensão
Nuno Casimiro
embalado pelos vícios de bolso
sou um contra-informação
bebo a luz que me acorda sem esforço
guarnecido de baixa tensão
duplicada a raiz do destroço
sou um contra-solidão
piso a descrença ainda em esboço
tal a dúvida na antevisão
dez mil anos a encarar o mesmo poço
sou um contra-evolução
azabumbo-me e solto o pescoço
a perna cruzada perde razão
assentar e deixar quente o teu lugar
sou um contra-cultura
remexo as ancas à volta do luar
grito sussurros às nomenclaturas
peço mais uma até deformar
sou um eterno contra-rutura
dedico palavras ao fundo do mar
sem adivinhar uma moda futura
este apetite não vai passar
sou um contra-largura
coerência só marcha devagar
em dias de chuva não peço factura
finalizo enquanto pinga no joelho
sou um contra-elogio
em cepa direita corro torto como coelho
ao fim do dia respanço o desafio