12.01.21
horas mortas
Nuno Casimiro
Resta adivinhar a ânsia
que perfura os céus que não toco –
mesmo de cabeça atenta
no topo dum pescoço bem hirto,
tudo está tão longe,
inacessível,
proibido.
Até a conjugação dos prazeres
soa a melancolia que agarra a voz
e pouco deixa sentir de novo.
Vou ter pêlo demais no fim
e não há qualquer sintoma de erro
dentro do que está combinado
com o calor.
Respingo as dádivas das horas mortas
refundando as redundâncias
dos reflexos incandescentes,
sempre na calha de um mal estar
quase metafísico,
num passo meio desconcertante.
É tempo de aprender a fazer noite
nas encruzilhadas dos dias que correm,
sem eu ter pulmão para arrebitar o senso
nem boa pele para afugentar a secura
do ruído insipiente.
Mas sim, eu sou sombra
em soma com a obra
nunca terminada na hora certa.
Encosto a discussão
sobre a verborreia acesa
e desato o nó dos sapatos
sem reparar no roxo
dos meus dedos gélidos.
Custa a crer que seja assim
o hiato das histórias que iluminam
um regresso a casa.