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À Beira da Lua

À Beira da Lua

27.09.23

efemeridade de um beijo


Nuno Casimiro

Sintonia que se insinua inquieta entre
inalienáveis vislumbres de
outras margens. Fantasia em espiral que
se faz turva. Desces até uma cave que
sussurra dizeres desmanchadamente
tímidos. Alguém arrota premonição
a tempo do intervalo – já incha a barriga
de silêncio emprestado.
Há uma brisa: mal te dás conta da
infindável noite que se pinta. Esquece o
decoro daquilo que se decorou. As
calças já estão ruças de tanto
lhes limpar hipóteses.
Vem um vento: falta agasalho à
palavra que mal se ouviu entre
a penumbra de um copo que se
pediu mas não chegou a vir. Ranges
os dentes e questionas para
onde se distancia todo o amor que
se fez outrora, na voracidade dos
dias mais claros, na efemeridade de
um beijo que te já não sabe
ao mesmo. Pegas nessas dúvidas
enroladas nas mãos trémulas e
fazes um dia falacioso como
o anterior: percebe que não
é por acaso que se estranha um
lugar novo.