Hoje acordei para a vida às 20:34.
Um sentimento de inutilidade invadiu-me os pensamentos.
Uma nuvem de desprezo cobria o quarto
e deixei-me anestesiar pelos seus encantamentos.
Saltou à vista uma inusitada observação
Hoje não vi a luz do sol!, pensei,
e um grito de desespero deu-me o condão
de reparar que todo um dia desperdiçei.
Quando me levantei já a lua comandava os destinos.
O cheiro da noite preenchia todos os cantos da casa,
no ar ecoava o som atrasado dos sinos,
na minha cabeça uma sensação dolorosa.
Engraçado: assim que abri os olhos julguei ter morrido.
Distanciei-me desse julgamento à medida de uma palma.
Por breves instantes achei que o meu corpo tinha desistido,
sucumbido aos pensamentos mais negros da minha alma.
Agora, 23:55, um vazio profundo instala-se à minha frente.
Encarno uma postura de convivência,
mas na minha cabeça sinto-me demente,
agarrando-me a um qualquer estado de sobrevivência.
As palavras, com o passar das horas, tornam-se ocas.
da janela o escuro instala-se e agora impera;
um cansaço invade e expulsa as sensações loucas
e uma dormência vem pôr fim à exaustiva espera.
Cansaço. Pode ser o cansaço a razão para tudo?
Um zumbido insuportável teima em concordar
Num cigarro procuro fugir do mundo
pela dança hipnotizante do fumo deixo-me enfeitiçar.
Um desespero gritante ecoa dentro de mim.
Quero ir para Longe, recusar-me a falar.
Nesse Longe serei o surdo-mudo que conquistou um fim,
e dar-me-ei créditos suficientes para não definhar.