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À Beira da Lua

À Beira da Lua

29.11.20

ruas cheias


Nuno Casimiro

pouco ou nada fiz de mim.
troquei todas as voltas
às vozes na roda
e tropecei
         em cada
                pensamento
                                íngreme.
catapultei o meu reflexo
para fora do alcance da chuva
que cai sem parar
              sem querer
ao passo de um desamparo
que domina
cada esquina detalhada.
saio à rua e tudo me é estranho
                                            e longe.
olho as pessoas que se fintam,
o chão que as cega,
as beatas mastigadas,
o tédio das ruas cheias –

tudo tão longe,
tudo tão perfeitamente encaixado
no meu desamparo...
não sei de mim
nem das dobras das camisas
que subtilmente amarrotam
um dia seguinte.

15.05.16

20:34, o vazio


Nuno Casimiro

Hoje acordei para a vida às 20:34.

Um sentimento de inutilidade invadiu-me os pensamentos.

Uma nuvem de desprezo cobria o quarto

e deixei-me anestesiar pelos seus encantamentos.

 

Saltou à vista uma inusitada observação

Hoje não vi a luz do sol!, pensei,

e um grito de desespero deu-me o condão

de reparar que todo um dia desperdiçei.

 

Quando me levantei já a lua comandava os destinos.

O cheiro da noite preenchia todos os cantos da casa,

no ar ecoava o som atrasado dos sinos,

na minha cabeça uma sensação dolorosa.

 

Engraçado: assim que abri os olhos julguei ter morrido.

Distanciei-me desse julgamento à medida de uma palma.

Por breves instantes achei que o meu corpo tinha desistido,

sucumbido aos pensamentos mais negros da minha alma.

 

Agora, 23:55, um vazio profundo instala-se à minha frente.

Encarno uma postura de convivência,

mas na minha cabeça sinto-me demente,

agarrando-me a um qualquer estado de sobrevivência.

 

As palavras, com o passar das horas, tornam-se ocas.

da janela o escuro instala-se e agora impera;

um cansaço invade e expulsa as sensações loucas

e uma dormência vem pôr fim à exaustiva espera.

 

Cansaço. Pode ser o cansaço a razão para tudo?

Um zumbido insuportável teima em concordar

Num cigarro procuro fugir do mundo

pela dança hipnotizante do fumo deixo-me enfeitiçar.

 

Um desespero gritante ecoa dentro de mim.

Quero ir para Longe, recusar-me a falar.

Nesse Longe serei o surdo-mudo que conquistou um fim,

e dar-me-ei créditos suficientes para não definhar.