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À Beira da Lua

À Beira da Lua

08.04.24

abraço adiado


Nuno Casimiro

enfim calor disfarçado
passeios e maré viva
pensar alto em peixe assado
defronte para o mar que se esquiva

há sempre este vento que empurra
não raras vezes sopra desvio
desabotoada sensação de chuva
que impregna os dias sem pavio

trespasso loucura alheia
desfiando a simplicidade que habito
investigo rima de boca cheia
desatinado pela noite que transpiro

passam as semanas sem mana
entre dedilhar de pele que envelhece
já arfa o cão sem passo nem chama
sem a faísca que tudo aquece

sinto que sou abraço adiado
confirmação terna de furtividade
repito o dia e finto o embaraço
conclusão amorfa de necessidade

mais dias virão
mais um dia que se fez
penso viagem e transição
concluo avô e sensatez

03.07.22

a loucura são dois dias


Nuno Casimiro

a loucura são dois dias
esqueces-te do compasso
e a roupa amarrota as sílabas

de súbito um alívio
por explicar
              [explorar]

desaceleram-se as horas
sinto o calor
                   na parte
de trás
             do pescoço

esquenta a bebida sobre a mesa
ja pinga suor no âmago dos braços
é a pele que se avermelha
é a dança que se levanta

abro buracos entre frases
e enterro aí            mesmo
as ânsias de um luar

a loucura são dois dias
amarras o espaço
e o corpo desenforma-se

desenlaço um grito
por se dar
            [transformar]

arregaço as mangas
sinto o vento
                   que sopra
entre as pernas
                     cruzadas

encerra-se um livro
gagueja-se uma conclusão
é o dia que termina
é o percalço que se aguça