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À Beira da Lua

À Beira da Lua

10.02.24

morbidez de pensar breve


Nuno Casimiro

Entre despiques assimétricos
lanço umas bafuradas díspares
bafejadas pela lógica do paleio
que se encolhe mal se encara.

Tapo os ouvidos e
restabeleço um sossego
penso para dentro que devia
saber melhor. Salto da cama com
o passo desregulado, julgo o peito
escancarado desprovido de choro.

Tenho um cheiro estancado no nariz
que me lembra insistentemente
um poema corriqueiro
sobre amor longínquo.

Tento pensar numa presença lenta
que deu o seu lugar a um silêncio
esporadicamente metafísico
inolvidavelmente palpável.

Na morbidez de pensar breve
aprisiono uma intenção alongada
e permaneço longe de um interlúdio
entre palmeiras, sopas e sizígias.

Laconicamente,
já ninguém escreve simplicidades
a três quarteirões da baixamar.

05.12.20

céus horizontais


Nuno Casimiro

Não tenho muito jeito para dançar
nem ritmo para sobrevoar
a metafísica das mil luas
sem brilho que chegue para
um interior seco e ríspido.

Dá-me lume neste dia friorento.
Nem sinto os dedos dos pés
tal a dissonância
com o que vou encontrando.
Não tenho muito jeito para dançar
no auge dum beijo que alguém me deu
sem ter entendido a razão
dum primeiro olhar
regado em ânsias duma noite
de lua cheia.
Empresta-me palavras que insirir-se‐ão
naquilo que não saberei dizer
mesmo que haja um rasgo
por entre os céus horizontais
pesados, e daí se reflita sobre os tons
dos pássaros que nos chegam tão
verticalmente.

Não tenho muito jeito para dançar
as dissimulações de uma estrada vazia.
Há toda uma amplitude no estreito
regresso a um sufoco que tão bem
se conhece.

Dá-me lume nestes tempos
                        tão estranhos.