16.10.17
da janela para o mundo
Nuno Casimiro
da minha janela
vejo todo um mundo
com a ilusão bela de
que lhe pertenço.
da minha janela
admiro os transeuntes ocupados
com as suas vidas
vivendo o hoje e preparando
o amanhã.
no reflexo que a janela me proporciona
vejo um miúdo
que carrega uma mágoa
exaustiva,
desperdiçando o presente
hipotecando o futuro.
nesse mesmo reflexo
uma tristeza sobressai
no seu semblante.
escodendo-se numa complexidade
de emoções e pensamentos.
procura-se no reflexo diante de si,
nas pessoas que passam,
no cigarro que se consome.
sente-se preso no passado
e na melancolia consequente.
deposita uma fé exacerbada
em sensações antigas;
vive desejando revivê-las,
mas desta vez com todo o fulgor.
o miúdo sou eu;
ou assim creio - já não sei.
da minha janela consigo ver o mundo.
ele altera-se e mantém-se intacto a cada instante.
julgo-o inalcansável.
recosto-me na cadeira
e fumo mais um cigarro - é a satisfação momentânea.