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À Beira da Lua

À Beira da Lua

03.07.22

a loucura são dois dias


Nuno Casimiro

a loucura são dois dias
esqueces-te do compasso
e a roupa amarrota as sílabas

de súbito um alívio
por explicar
              [explorar]

desaceleram-se as horas
sinto o calor
                   na parte
de trás
             do pescoço

esquenta a bebida sobre a mesa
ja pinga suor no âmago dos braços
é a pele que se avermelha
é a dança que se levanta

abro buracos entre frases
e enterro aí            mesmo
as ânsias de um luar

a loucura são dois dias
amarras o espaço
e o corpo desenforma-se

desenlaço um grito
por se dar
            [transformar]

arregaço as mangas
sinto o vento
                   que sopra
entre as pernas
                     cruzadas

encerra-se um livro
gagueja-se uma conclusão
é o dia que termina
é o percalço que se aguça

12.01.21

horas mortas


Nuno Casimiro

Resta adivinhar a ânsia
que perfura os céus que não toco –
mesmo de cabeça atenta
no topo dum pescoço bem hirto,
tudo está tão longe,
inacessível,
proibido.

Até a conjugação dos prazeres
soa a melancolia que agarra a voz
e pouco deixa sentir de novo.
Vou ter pêlo demais no fim
e não há qualquer sintoma de erro
dentro do que está combinado
com o calor.

Respingo as dádivas das horas mortas
refundando as redundâncias
dos reflexos incandescentes,
sempre na calha de um mal estar
quase metafísico,
num passo meio desconcertante.

É tempo de aprender a fazer noite
nas encruzilhadas dos dias que correm,
sem eu ter pulmão para arrebitar o senso
nem boa pele para afugentar a secura
do ruído insipiente.

Mas sim, eu sou sombra
em soma com a obra
nunca terminada na hora certa.
Encosto a discussão
sobre a verborreia acesa
e desato o nó dos sapatos
sem reparar no roxo
dos meus dedos gélidos.
Custa a crer que seja assim
o hiato das histórias que iluminam
um regresso a casa.