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À Beira da Lua

À Beira da Lua

24.03.21

brando rumor das manhãs


Nuno Casimiro

Abro os olhos:
o corpo demora.
Espevito um bocejo
como um rugido incerto.
A claridade de um dia novo
invade os sentidos e a escuridão
do quarto em mim. Duvido das intenções
de um alarme que se repete –
um grito que anuncia o brando rumor
das manhãs.
Endireito um desvio de coluna
e aqueço as mãos num café
bebido com pressa.
Alargo a vista através da janela
que dá para os céus horizontais
e para o eco dos cães que ladram
presença: ninguém passa por perto
que me diga que horas são
no outro lado da inquietude.

Lanço um bafo espirituoso –
o fumo dança além mim
como se sobrevoasse cogitações
milenares à volta de uma fogueira
aborígene.

Hesito perante o primeiro pensamento.
Consinto o silêncio
e ajeito a cegueira diurna –
daqui a pouco acordar-me-á
a noite.