29.11.20
ruas cheias
Nuno Casimiro
pouco ou nada fiz de mim.
troquei todas as voltas
às vozes na roda
e tropecei
em cada
pensamento
íngreme.
catapultei o meu reflexo
para fora do alcance da chuva
que cai sem parar
sem querer
ao passo de um desamparo
que domina
cada esquina detalhada.
saio à rua e tudo me é estranho
e longe.
olho as pessoas que se fintam,
o chão que as cega,
as beatas mastigadas,
o tédio das ruas cheias –
tudo tão longe,
tudo tão perfeitamente encaixado
no meu desamparo...
não sei de mim
nem das dobras das camisas
que subtilmente amarrotam
um dia seguinte.