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À Beira da Lua

À Beira da Lua

08.04.24

vai cheirando a primavera


Nuno Casimiro

vai cheirando a primavera
a/curtos/espaços
os ramos diante
       continuam despidos
mais tarde far-se-á cor e definição
daqui a nada virá calor e sofreguidão
já pressinto gota a correr pelo pescoço
janelas abertas
       espanta surpresa amorfizada
       bafo/mofo/varre ideias enroladas
roupa estendida na rua
regresso ao estado + natural das coisas
verborreia nua sem nuance
que espanto será um eco
sobre uma tela crua/por estrear
       sequência de barulhos conhecidos
       ouvido atento não decora muito
dentes rangem palavra arrastada
pautada sensação de estar perdida
destemido quartzo com gota isolada
será minha esta boca faminta?

vai cheirando a primavera
a certos espaços/dantes eram longos
toque leve na tua pele
cadê beijo/amor macio
persigo
encontro
cheiro
flor
encontro cheiro persigo flor
persigo flor encontro cheiro

passeios verdes
poema em forma de ilha
amor em forma de mergulho

quem me dera respirar
                  debaixo d'água
                         /entre mistérios
                                          ser sopro

25.03.23

movimento retrospectivo das coisas


Nuno Casimiro

trago sempre comigo um sopro
que me esquenta as mãos
e adocica um sorriso escondido

um poema manco que se balbucia
entre as dúvidas e os anseios
entre chuvas e sóis

uma recordação da tua voz
que desperta o movimento
retrospectivo das coisas

sempre se embrulha o mar
sem pé que se esgote
nem rumorejo
sobre as
profun
dida
des

trago sempre comigo um eco
uma promessa que se alonga
arrumada na estreiteza
comum dos dias