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À Beira da Lua

À Beira da Lua

11.08.21

fruta amadurecida


Nuno Casimiro

aí vão-se dois goles

no espaço de um tremor

 

nas pernas a fissura

que descaracteriza devagar

tudo o que resta

 

bem te esgueiras pela beira

transita cheiro omisso

sem pensar

 

semeia dúvida em esquina

desembarca a palavra

           (solta-se em subtração)

 

corpo desmedido

de nariz torto e sem manias

não fala nem cala

consente sem arrotar

 

quer ser outra coisa

sem peso nem núcleo

 

quer ser bandeira esquecida

armadilha escondida

que atrai bicharada

sem comprometer o vazio dos bolsos

           

       (anseia-se —

        não sabe como respirar)

 

retorno à voz

grito galopante

 

aaaaaaah

tropeça no caminho decorado

 

faz-se histeria

sem frescura

sem rodeios impares

 

há uma história pensada

mal rasurada sem protagonista

 

especula-se o tempo

poucas chances de falar

 

sílabas confundem-se

entre os sabores de fruta amadurecida

 

(soletram-se os saltos)

 

enche um murmúrio por dentro

e desimpede-se um aperto

 

tudo mais breve e brisa

ao de leve em forma de abraços

curvos sem sufoco

 

afinal ainda é gente

sem arranhar a superfície

03.06.16

Delírio


Nuno Casimiro

Vivo assombrado pela tua memória.

Lembrança funesta que me faz delirar.

Nos sonhos recapitulo toda a história

e acordo a definhar.

 

Nunca me lembro de te esquecer.

O meu vil eu ri-se a bandeiras

despregadas

achando ridícula a minha forma de

viver

enquanto olha para as recordações

emolduradas.

 

Passo as noites de olho aberto

numa troca de argumentos com a

consciência

desejando ter-te por perto

para me lembrares qual a minha

essência.

 

Pelos recantos do quarto

procuro sossegar

a alma e o corpo

deste sufoco

que é viver sem amar.