11.08.21
fruta amadurecida
Nuno Casimiro
aí vão-se dois goles
no espaço de um tremor
nas pernas a fissura
que descaracteriza devagar
tudo o que resta
bem te esgueiras pela beira
transita cheiro omisso
sem pensar
semeia dúvida em esquina
desembarca a palavra
(solta-se em subtração)
corpo desmedido
de nariz torto e sem manias
não fala nem cala
consente sem arrotar
quer ser outra coisa
sem peso nem núcleo
quer ser bandeira esquecida
armadilha escondida
que atrai bicharada
sem comprometer o vazio dos bolsos
(anseia-se —
não sabe como respirar)
retorno à voz
grito galopante
aaaaaaah
tropeça no caminho decorado
faz-se histeria
sem frescura
sem rodeios impares
há uma história pensada
mal rasurada sem protagonista
especula-se o tempo
poucas chances de falar
sílabas confundem-se
entre os sabores de fruta amadurecida
(soletram-se os saltos)
enche um murmúrio por dentro
e desimpede-se um aperto
tudo mais breve e brisa
ao de leve em forma de abraços
curvos sem sufoco
afinal ainda é gente
sem arranhar a superfície