23.04.21
tons nublados
Nuno Casimiro
a pele treme
toca música nos fundos
chego depois da hora
de ponta de língua embrulhada
deviam ter chamado
as pessoas atentas
para que nada escapasse
à linha horizontal dos dias
fotografados
fustigo as abreviaturas
presas em casa que não é minha
nem arranjo um buraco profundo
na roupa que perde cor
a cada quilómetro que não consumo
e tons nublados
perscrevem o martírio
sobre um último gole
debruçado sobre o
quinquagésimo nono segundo
antes do minuto contagiar a
eternidade impraticável
tocam-se os musgos
barbatanas enferrujadas
de nunca sonhar com o mar
rebenta o sol no ponto mais alto
a pele queima enquanto
já não espanta o contravento
que desbrava sensações
de pernoitar à distância
de um murmúrio pojante
de uma palavra nova
vem um percalço
em forma de poema
e a pele volta a
tremer