24.03.21
torre de vigia
Nuno Casimiro
Apresento um rosto
pouco convicto
das ilusões
soberbas.
As nuvens bem por cima
de um despertar
desvendam um calor
insolente – haverá sol
mesmo depois de um relampejo.
Cruzo as pernas
enquanto encaro
a dormência das almas
quebradas.
Viajo de olhos fechados – confio
vaticínios ao desenrolar
das mãos alheias que emprestam
rumorejos adocicados.
De quando em vez cresce espírito
que acalenta a palavra.
Já me queima a pele
e uma mosca sobrevoa-me – sinto-me
como uma torre de vigia a indicar-lhe
o pouco sentido das coisas.
Presto atenção à falta de padrão
que me preenche
a boca.
Devagar se faz tarde –
abraço a morosidade
e respingo os fatalismos
dos desejos.