14.01.21
voz enrolada
Nuno Casimiro
Alumiado pelas desconcertantes fantasias
governo um porta-moedas
que entrega peso
à aspereza de uma língua rotativa
abruptamente fintada
por um ouvido descompensado.
Tecnicamente estou mais longe
do que os minutos que antecedem
a noite já lida.
Faço as pausas devidas
e receito a voz enrolada
a cada suspiro que se entranha
nas fronhas floridas.
Decoro cheiros
para mais tarde estranhar,
na suposição de que não toco em nada
nem nada me toca,
mesmo que ao de leve,
como um sopro para acalmar a fervura.
A angustiante sensação
que persegue o mover aflito dos olhos
só faz ter sede não de água,
nem de dogmas,
mas de sossego irreflectido,
que talvez se encontre
entre as horas vagas
sem a exaltação dos dias passados
nem o caos dos sóis vindouros.
Sobejamente,
sou ar
trancado.